sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Perguntas e respostas. Chico Xavier

De todos os relacionamentos entre seres humanos (materno-paterno, amistoso, social, profissional, de companheirismo, etc.), nenhum me parece mais conflitante que o relacionamento entre homem e mulher. Porque são tão raros os casais que vivem num clima de harmonia perfeita?

O relacionamento entre os parceiros da vida íntima no lar, na essência, é uma escola ativa de aperfeiçoamento do espírito. Até que duas criaturas alcancem o amor integral, uma pela outra, sob todos os aspectos da individualidade, é compreensível o atrito mais ou menos freqüente entre ambas, visando ao burilamento recíproco.



Quando um dos cônjuges não assume a responsabilidade na parte que lhe toca na sustentação do equilíbrio recíproco, qual a responsabilidade do outro que for buscar fora do lar vinculações extraconjugais?

Alguém que fira outro alguém, depois dos compromissos afetivos devidamente assumidos em dupla, é responsável pela lesão psicológica que cause, criando para outrem e para si mesmo dificuldades que só pelo amparo do tempo, conseguirá resgatar.



Há pais que a pretexto de uma educação liberal e sem traumas preferem nada esconder dos filhos, em termos de educação sexual. Alguns chegam a tomar banho despidos junto aos filhos, apesar de que isso poderia suscitar complexos de inferioridade ou outros. Alguns pais se permitem acariciar seus rebentos de maneira inconveniente, originando nestes uma espécie de pudor doentio. Peço consideração sobre isso.

Somos partidários do respeito recíproco entre pais e filhos, adultos e jovens, em todas as fases da vida. Cada espírito é um mundo por si, com a obrigação de descobrir-se e aproximar-se, conquanto deva e possa receber o auxílio de outrem para isso mas sempre na base do apreço mútuo.



Afirmam os médicos que uma criança já nascida sente inconscientemente, por intuição ou telepaticamente, quando seus pais tentam rejeitá-la, sendo que tal fato transparece nos desenhos e criações infantis pois ela considera o fato um assassínio embora nem justo nem injusto.

Verdade. O espírito do nascituro, mais ou menos conscientemente, conhece as disposições dos pais a seu respeito.


Que é pior para a criança ou para o adolescente: a violência que vê na televisão ou no cinema, ou a que presencia ao redor de si?

Qualquer violência, em qualquer lugar e em qualquer tempo é prejudicial ao autor e aos que lhe assistem a exteriorização, seja qual for a idade do espectador.



Do ponto de vista da Religião Espírita, qual deve ser a conduta dos pais, em relação aos filhos-problema e dos filhos em relação aos pais-problemas?

Os Espíritos Amigos dizem, comumente, que precisamos de uma reformulação na Terra, dos nossos assuntos de ordem familiar. Não devemos constranger nossos filhos a sofrerem processos de violência, de nossa parte, tanto quanto aos nossos filhos não devem criar semelhantes problemas para nós, quando assumimos os compromissos de pais na Terra. O impositivo de proteção à infância, no período mais terno da reencarnação, é assunto de importância fundamental para a educação do espírito que se reencarna na Terra. Não podemos desprezar a infância, em tempo algum, porque a infância levará para a frente o retrato de nossa própria conduta para com ela. E se abandonamos a criança exigindo, de futuro, que em plena mocidade, obedeça à força, o assunto se faz muito difícil. Necessário que os pais conversem mais cordialmente com os seus filhos no clima da harmonia doméstica, dentro da própria casa e nunca adiar essas conversações para tempos de desastre sentimental. Freqüentemente, os pais não se sentam com os filhos para um entendimento afável, para uma conversação mais doce, para que o intercâmbio da amizade se processe, para que o amor realize a sua Obra Divina nos corações, e bastas vezes, assumem atitudes atormentadas, quando os filhos ou as filhas mais jovens adquirem dificuldades ou problemas íntimos para a solução dos quais eles, os pais, não os preparam. Precisamos agora, mormente na atualidade quando se opera vasta revisão de valores doméstico, familiares e sociais da prática de um amor sem limites, de uma tolerância imensa, - de nós todos, de uns para com os outros, - para que atinjamos um acordo geral de rearmonização e, então iniciar uma era nova, em que a criança receba realmente aquele amparo de que necessite e a que tem direito, para que nunca venhamos a condenar indebitamente, os mais jovens.



Pelo que depreendemos, dá o benfeitor Emmanuel muita ênfase ao prisma religioso da Doutrina Espírita. Por que isso?

Emmanuel costuma afirmar-nos que sem religião, seriamos na Terra, viajores sem bússola, incapazes de orientar-nos rumo da elevação real.


O que o Sr. acha da posição da Família, nos dias que correm e da contribuição que o Espiritismo pode dar para a sua consolidação em bases cristãs?

Os conceitos de família, à luz da Doutrina Espírita, a nosso ver, caminham para mais ampla compreensão da liberdade construtiva e do respeito mútuo que devemos uns aos outros.



O Sr. acha que o mundo conseguiria viver sem a família organizada?

Não acreditamos, porque sem a família organizada caminharíamos para a selva e isso não tem razão de ser. Admitimos que a família terá de fazer grandes aberturas, porque estamos aí com os anticoncepcionais, com os problemas psicológicos, com os conflitos da mente, com as exigências afetivas de várias nuances. Os assuntos familiares assemelham-se hoje aos viajantes que transitam em determinada estrada. Com exagerado acúmulo de veículos construímos mais pistas, para que haja menos desastres. A família precisa abrir novas pistas de compreensão para que os componentes dela possam viver em regime de respeito recíproco, com os problemas de que são portadores, sem a agressão que tantas vezes se verifica, contra criaturas que sofrem aflitivos problemas dentro da constituição psicológica diferente da maioria.



Por que motivo o casal, muitas vezes, tem no noivado uma paixão marcante e experimenta a diminuição do interesse afetivo nas relações recíprocas, após o nascimento dos filhos?

Grande número de enlaces na Terra obedece a determinações de resgates, escolhidas pelos próprios cônjuges, antes do renascimento no berço físico. E aqueles amigos que serão filhos do casal, muitas vezes, agindo no Além, transformam, ou melhor, omitem as dificuldades prováveis do casamento em perspectiva para que os cônjuges se aproximem afetuosamente um do outro, segundo os preceitos das leis divinas e formem o lar, desfazendo dentro dele determinadas dificuldades das existências anteriores em motivos de amor e compreensão maior. O namoro e o noivado, em muitas ocasiões, estão presididos pelos Espíritos familiares que serão filhos do casal. Quando esses mesmos Espíritos se corporificam em nossa casa, na posição de nossos próprios filhos, parece que há diminuição de amor entre os cônjuges, mas isso não acontece; existe, sim, o decréscimo da paixão, no capítulo das afeições possessivas que nos cabe evitar.

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